Em primeiro lugar, o que é a Neurociência? Nada mais é do que o estudo do sistema nervoso e suas estruturas, desenvolvimento e funcionalidades, além das possíveis alterações que podem ocorrer ao longo da vida.
O objeto de estudo desta ciência é complexo, já que o sistema nervoso abarca cérebro, medula espinhal e nervos periféricos, e é o encarregado de coordenar todas as atividades do organismo tanto de forma voluntaria como involuntária.
Assim como outras áreas da ciência, a neurociência divide seus estudos em vários campos, que estuda pontos específicos entre os que se destacam:
- NEUROANATOMIA: é o estudo da estruturação e organização do sistema nervoso central e periférico, incluindo cérebro, medula espinhal, nervos periféricos e suas estruturas de suporte.
- NEUROFISIOLOGIA: é o estudo da intercomunicação neuronal, focado na funcionalidade do sistema nervoso. Neste campo, os neurocientistas investigam os sistemas nervoso central e periférico a nível de órgãos inteiros, redes celulares, células isoladas e até compartimentos subcelulares. Uma característica dessa disciplina é o interesse pelos mecanismos que levam à geração e propagação de impulsos elétricos dentro e entre os neurônios, o que é importante para o diagnóstico e tratamento de distúrbios relacionados ao mau funcionamento, como por exemplo a Doença de Parkinson e a Esclerose Múltipla.
- NEUROPSICOLOGIA: associa o estudo detalhado do sistema nervoso à análise do comportamento humano e dos processos psicológicos, tendo por objetivo a compreensão do papel dos sistemas cerebrais individuais em formas complexas de atividades mentais. Doenças como Alzheimer e Epilepsia são alvos do estudo desta disciplina.
- NEUROCIÊNCIA COGNITIVA: tem como foco o estudo das capacidades mentais do ser humano como pensamento, aprendizagem, inteligência, memória, linguagem e percepção. Este ramo da neurociência não diz respeito apenas ao sistema nervoso em si, mas também a como as experiências sensoriais adquiridas ao longo da vida são processadas pelo cérebro e transformadas em conhecimento.
- NEUROCIÊNCIA COMPORTAMENTAL: este ramo da neurociência se encarrega de conhecer melhor as emoções e pensamentos que afetam negativa ou positivamente a maneira como agimos. É a ponte entre o aspecto clínico do cérebro e como ele influencia na forma como as pessoas se comportam.
E o que é a saúde emocional?
Segundo a OMS, a saúde emocional se define como o estado de bem estar, entendendo-se esse bem estar como a situação que permite às pessoas ser conscientes de suas auto capacidades, gerir a dificuldades normais da vida cotidiana e realizar atividades produtivas.
Ao longo de um dia inteiro todos sentimos emoções muito diferentes e temos experiências diversas, que podem ser capazes de nos desestabilizar em maior ou menor medida, em função de como as gerimos. Cabe ressaltar que a forma como agimos perante nossas emoções reflete nossas próprias capacidades como pessoas, nossa autoestima e nossa autoconfiança.
É importante frisar que é urgente para o ser humano entender as suas próprias emoções pois além de ser um processo importante para o entendimento de si mesmo, é uma estratégia para prevenir e tratar doenças mentais.
Entendendo a Neurociência e as Emoções
O que são as emoções? Há diferentes definições e não existe um “certo” e um “errado”, porém as emoções podem ser definidas como a resposta fisiológica do nosso corpo diante de um estímulo do meio.
Ter o domínio das próprias emoções não significa deixar de senti-las, mas sim aprender a geri-las adequadamente. Todas as emoções, inclusive as desagradáveis para o ser humano, são necessárias porque cada emoção possui uma função fisiológica positiva.
Emoção e Sentimento são a mesma coisa? A resposta é não. Enquanto a definição de emoção já foi descrita acima, o sentimento envolve um alto grau de componente cognitivo, de percepção e avaliação de algo.
Exemplificando, a emoção é a resposta fisiológica diante de um estímulo. Se um cachorro corre em sua direção ocorre, quase que instantaneamente, taquicardia e midríase, entre outros, como resposta a esse estímulo. Por outro lado, o sentimento é a interpretação do que isso significa, levando-lhe a querer correr para longe do cachorro. Isso envolve pensamento, percepção e avaliação da situação.
Segundo o médico neurologista e neurocientista António Damásio, existem quatro emoções básicas que regem a vida do ser humano e são responsáveis pelas demais emoções que sentimos, e todas elas possuem funções fisiológicas positivas. São elas:
- Raiva
- Tristeza
- Medo
- Alegria
As emoções primarias e secundarias associam-se a diversos sentimentos, que se caracterizam da seguinte forma:
- As emoções primarias envolvem fatores inatos para responder a determinados estímulos, controlados pelo sistema límbico.
- As emoções secundarias são aprendidas e envolvem categorizar as representações desses estímulos que são avaliadas como boas ou ruins de acordo a experiências passadas.
Apesar de estreita interrelação, as duas formas de emoção são distintas. Exemplificando, um sorriso espontâneo é diferente de um sorriso intencional.
Raiva
Em primeiro lugar, devemos ressaltar que a raiva não é uma emoção negativa. Fisiologicamente, quando estamos com raiva, nosso Sistema Nervoso Simpático assume o controle, e os principais efeitos desse processo são:
- Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial
- Aumento da liberação de hormônios nas glândulas suprarrenais
- Ereção dos pelos
- Aumento do metabolismo da glicose
- Vasoconstrição cutânea
- Vasodilatação dos músculos esqueléticos
A soma desses efeitos permite ao sujeito exercer atividade física com muito mais energia do que seria possível de outra forma. Em outras palavras, a raiva é um “preparar-se para a briga”.
Em situações de sentimentos intensos gerados por emoções como a raiva, o cérebro tem uma tendência a focar mais na sobrevivência do que em emitir a resposta cognitiva mais adequada.
Tristeza
A tristeza é um estado de desânimo, cansaço e solidão. Ainda que considerada desagradável na maioria das situações, é preciso entender que se trata de uma emoção completamente normal e saudável, e deve ser passageira.
Essa emoção possui vários níveis de intensidade, que vão desde um estado de desapontamento até a angústia, que é mais intensa. Pode ser desencadeada por diversos acontecimentos, como uma desilusão amorosa, problemas financeiros, traumas, descontentamento profissional ou algum outro tipo de conflito interior.
Medo
O medo é uma emoção que surge com a finalidade de protegermos nossa vida desde a infância. Sempre que estamos prestes a executar uma ação que coloca nossa vida em risco de alguma maneira, sentimos medo.
O medo condicionado, também conhecido como aprendido, é causado pela maioria dos estímulos que se tornam “avisos” de que certas situações ameaçadoras podem acontecer novamente. Já o medo patológico, normalmente ocorre em ambientes instáveis quando uma mudança de curso é necessária.
A principal função do medo é proteger; porém, ao mesmo tempo ele também pode bloquear, ou seja, o medo impede realizações.
Existem inseguranças e medos em qualquer fase da vida, desde a infância até a velhice.
Alegria
A alegria é a emoção de querer repetir ou expandir uma experiência, por isso é conhecida como “emoção de expansão”.
Cumpre a função de nos ajudar a formar vínculos com outras pessoas, por isso queremos sempre vivenciar e repetir o mesmo sentimento, como uma estratégia do cérebro que é buscar a repetição de algo ao sentir que nos trouxe prazer e sensação de bem estar.
As emoções e a saúde emocional
Quando não são gerenciadas adequadamente, as emoções podem ser capazes de levar ao adoecimento mental/emocional. Um exemplo clássico é o excesso de tristeza, que pode gerar depressão, ou o medo excessivo que pode gerar ansiedade.
As principais funções psíquicas que podem sofrer anormalidades, levando ao adoecimento, podem ser resumidas nas seguintes áreas:
- Consciência
- Atenção
- Orientação
- Pensamento e delírio
- Memória
- Inteligência
- Afeto
- Vontade
Se estas áreas são afetadas, pode ser sinal de um adoecimento emocional ou uma psicopatologia, e entre as mais incidentes atualmente se destacam:
- Depressão
- Transtornos de ansiedade
- Síndrome de Burnout
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo
- Transtornos da Alimentação
- Transtorno Bipolar
Estas patologias podem acometer pacientes diversos, em situações e contextos diferentes.
Depressão
A depressão é a condição psiquiátrica de maior prevalência na população global, e o Brasil fica em quinto lugar na classificação dos países mais afetados por essa patologia.
De acordo com o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais) a depressão é definida como um distúrbio afetivo que apresenta como principais sintomas a distimia (estado de tristeza crônica) e a anedonia (perda de interesse em atividades novas ou que anteriormente geravam prazer).
Pode-se dizer que a depressão é o conjunto de alterações comportamentais, emocionais e de pensamento que trazem sérios prejuízos em várias áreas da vida de uma pessoa, já que aquele que está passando por essa condição vê o mundo de forma diferente, sente a realidade de forma diferente e manifesta as suas emoções de forma diferente.
Transtornos de ansiedade
A ansiedade, em termos gerais, não pode ser considerada totalmente prejudicial, já que quando esta é leve e de curta duração, faz bem para o nosso cérebro pois eleva o alerta para um nível ótimo e nos ajuda a ter mais concentração em uma tarefa que estejamos executando.
A preocupação com os eventos cotidianos é comum e inevitável, porem o problema começa quando essa preocupação se torna excessiva e de difícil controle, o que compromete o bem estar do paciente. O pensamento do ansioso voa de uma preocupação específica para outras, tornando-o refém dos pensamentos geradores de insegurança que, muitas vezes, não são sequer pautados na realidade, mas sim em eventos pouco prováveis de ocorrer.
É interessante ressaltar que depressão e ansiedade compartilham sinais e sintomas comuns e podem acontecer concomitantemente.
Síndrome de Burnout
É um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, relacionada ao trabalho, pelo que também é conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.
É o resultado direto do acúmulo excessivo de estresse, tensão emocional e trabalho em excesso, bastante comum em profissionais que trabalham sob pressão constante.
Transtorno obsessivo-compulsivo
É um transtorno psiquiátrico de ansiedade que tem como principal característica a presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões.
Entende-se por obsessão pensamentos, ideias e imagens que invadem a pessoa insistentemente, contra sua própria vontade, e a única forma de livrar-se deles por algum tempo é realizar o ritual próprio da compulsão. Esse distúrbio leva o paciente a acreditar em que algo terrível pode lhe acontecer, caso não realize os rituais de compulsão.
De modo geral, os rituais se desenvolvem nas áreas da limpeza, checagem ou conferência, organização, simetria, e podem variar ao longo da evolução do transtorno.
Transtornos da alimentação
Os transtornos alimentares são caracterizados por alterações na forma de se alimentar, o que normalmente ocorre devido a uma preocupação excessiva com o peso e a aparência do corpo. Podem trazer consequências muito graves para a saúde.
Entre os mais comuns estão a anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar.
Transtorno bipolar
O transtorno afetivo bipolar é um distúrbio complexo, marcado pela alternância, muitas vezes súbita, de episódios de depressão com episódios de euforia, e de períodos assintomáticos entre eles. As crises podem variar em intensidade, frequência e duração.
As flutuações de humor têm reflexos negativos sobre o comportamento e atitude dos pacientes, já que a sua reação costuma ser desproporcional aos fatos que serviram de gatilho, ou podem até mesmo independer deles.
Conclusão
Apesar de inúmeras provas de que a saúde emocional reflete diretamente na saúde física do ser humano, na maioria dos casos não é dada a importância e prioridade devida à mesma no cotidiano.
Reeducar os pensamentos é um processo; a princípio, não é algo natural e é necessário um grande esforço para mudar o padrão de resposta. Exercício físico, uma alimentação equilibrada e uma boa qualidade de sono são aliados que irão aumentar a qualidade de vida, e permitirão a compreensão com melhor clareza das questões anteriormente incompreensíveis.
A tomada de decisão acontece no cérebro, portanto, você é o responsável pela saúde do seu cérebro e, consequentemente, pelas escolhas que faz.
Referências Bibliográficas
ERIC R. KANDEL, Princípios de Neurociências, 5ª Ed
Autora: Gabriela F. Leoncio de Sá
Instagram: @gabifdesa
Fonte: https://sanarmed.com/a-relacao-entre-a-neurociencia-e-a-saude-emocional-colunistas/
Publicado por: Tiago Merlone