Todo profissional de RH que está há tempos no mercado vislumbra determinadas situações ideais para sua área de trabalho. Até pouco tempo atrás, boa parte desses desejos não passavam de sonhos, mas a coisa mudou. A inteligência comportamental é um fator que representou um verdadeiro divisor de águas no mercado de recursos humanos e que tornou aqueles seus velhos sonhos e devaneios uma realidade.
Mas, afinal, o que é inteligência comportamental? É o que este post irá ensinar para você. Confira!
O que é inteligência comportamental?
Desde o século XVIII, precursores da psicologia consideravam uma grande divisão da mente em cognição, afetividade e motivação. A esfera mental inclui uma série de funções, entre a memória, o raciocínio e discernimento, a capacidade de julgar e também o pensamento abstrato. Geralmente usamos o conceito de inteligência para caracterizar o funcionamento da cognição, usando essas habilidades básicas como referência.
As emoções, contudo, consistem numa segundo esfera mental, e se manifestam por traços de humor e sentimentos. A motivação é o nosso lado mais instintivo – nela estão traços biológicos e comportamentais.
Na modernidade, a comunidade científica tem apresentado diversas outras maneiras de medir a inteligência, levando em conta esses três fatores. Passou-se a falar em inteligência emocional e, mais recentemente, também em inteligência comportamental.
Os desafios do RH mudaram. As pessoas mudaram. As empresas também mudaram. Entender os aspectos humanos das relações empresariais deixou de ser uma preocupação dos bons chefes apenas. Isso hoje representa o negócio, o sucesso de uma organização.
Dia após dia, as pessoas estão mais em busca de carreiras e respostas que lhes proporcionem um caminho certo para o cumprimento de seu propósito e suas metas de vida, e as organizações, como extensões da natureza humana, também se voltaram mais ao cumprimento de um propósito e de uma razão de existência do que meramente ao cumprimento de protocolos e processos.
Somos um departamento que, como sugere o nome, lida com o lado humano das empresas. E o que poderia haver de melhor para nós senão uma nova realidade na qual o comportamento e as reações humanas ganharam os palcos?
Salovey e Mayer
Esses estudiosos são referência no campo da psicologia comportamental e definiram a inteligência emocional como sendo a capacidade de percepção e expressão das emoções, a assimilação delas ao pensamento e a capacidade de compreender e até mesmo raciocinar com ela. Eles dividiram essa inteligência em quatro domínios:
Percepção das emoções
O que inclui habilidades para identificar sentimentos por meio dos estímulos que eles geram, como gestos e expressões faciais. A pessoa com tal habilidade é mais sensível às manifestações emocionais de terceiros.
Uso das emoções
Essa competência usa as informações emocionais registradas de modo a facilitar o próprio pensamento e o raciocínio – é como um boost na cognição gerado a partir das emoções.
Compreensão das emoções
Essa habilidade inclui a captação de uma série de nuanças e variações emocionais pouco evidentes e mais complexas, além de uma percepção maior em relação à intensidade e coexistência de padrões emocionais.
Controle das emoções
Essa é a aptidão para lidar com os próprios sentimentos, o ponto que verdadeiramente é enxergado, em termos profissionais, como sendo a inteligência emocional em uso.
Goleman
A inteligência emocional para Goleman tem um caráter um pouco diferente. Consiste simplesmente em identificar as nossas emoções e as dos outros, e geri-las de forma a facilitar os relacionamentos. Para esse viés a inteligência emocional e, consequentemente, comportamental é o maior fator de sucesso nos indivíduos. A inteligência emocional para ele pode ser separada em cinco habilidades principais:
- O autoconhecimento emocional e o reconhecimento dos sentimentos;
- O controle emocional e a capacidade de lidar com os próprios sentimentos;
- A automotivação e a capacidade de direcionar as emoções para que elas apontem para um propósito ou para a realização pessoal;
- O reconhecimento das emoções nas pessoas e o estabelecimento de empatia;
- A habilidade interpessoal e o uso de competências sociais.
Goleman vê a inteligência emocional como uma soma de capacidade de autocompreensão e autoconhecimento e competências sociais e relacionais. Os dois aspectos são hoje o foco da grande maioria das discussões existentes em gestão de pessoas.
Por que estamos falando disso?
Sim, o tópico é a inteligência comportamental, mas essa é influenciada diretamente por nossas emoções. A inteligência comportamental, dentro da área de RH, é o que nos permite direcionar pessoas e profissionais para que os mesmos reconheçam e utilizem seu potencial, desenvolvam competências e as aprimorem e busquem seus objetivos e metas de forma espontânea.
O que isso tem a ver com os sonhos do RH?
Bem, em muitos aspectos, a função do RH pode ser resumida a gerir pessoas, motivá-las e criar caminhos para que elas desenvolvam seu maior potencial. O sonho de qualquer departamento de RH é encontrar a peça mágica que faça com que qualquer pessoa seja capaz de produzir e criar em seu máximo. Não se trata de benevolência, mas sim de resultados.
Durante muito tempo, o RH foi um departamento avaliado em termos de resultados objetivos, mas para tanto precisava lidar com aspectos emocionais e comportamentais das pessoas. Com ações totalmente voltadas à construção e desenvolvimento da inteligência cognitiva, empresas cobravam resultados motivacionais e comportamentais.
A inteligência comportamental é o divisor de águas na produção de resultados para recursos humanos. A partir das recentes inovações nessa área, que incluem novas estratégias de coaching e mentoring, filosofias de trabalho e convivência mais humanizadas, interferências mais existenciais na vida do funcionário e o desenvolvimento e busca de competências e perfis emocionais e comportamentais, o RH pode começar a trilhar um caminho de resultados – os resultados que sempre esperaram da área.
Com base na inteligência comportamental, um colaborador pode ser visto como uma peça fundamental no cumprimento do propósito de uma organização, mas não é só isso: a própria organização também passa, em contrapartida, a ser parte do caminho do funcionário para que este venha a cumprir o seu propósito pessoal. Com foco na inteligência comportamental, ao contrário do que muitos pensam, um RH pode trabalhar não no nível adestracional, mas sim no desenvolvimento de competências que cumpram um papel motivacional e emocional mais rico dentro das empresas, criando colaboradores que se engajam mais e desenvolvem parcerias com suas organizações. O sonho do RH se cumpre.
Por que é difícil lidar com isso?
Fomos educados, na área de RH, a observar o ser humano como um conjunto de habilidades. Nosso objetivo, por muito tempo, foi o de selecionar dentro dos candidatos existentes os grupos de habilidades que mais se adequavam às necessidades das organizações que representávamos.
Problema: isso não gerava mudança – nem nos funcionários e nem na organização.
Além disso, talentos e potenciais eram desperdiçados em vistas de critérios arbitrários e inflexíveis, gerando dificuldades para a empresa em sua busca por novos talentos e problemas para os funcionários, à medida que a grande maioria não tinha suas necessidades de autorrealização preenchidas por uma organização que não se movia.
A inteligência comportamental representa não apenas a oportunidade de lidar com competências que ainda não tenham sido desenvolvidas em sua plenitude, mas também oferece a possibilidade de transformação. E transformar é a nova palavra da vez no RH.
É preciso transformar a empresa, as pessoas, as lideranças e os relacionamentos, mas para tanto é preciso também penetrar mais fundo em outros padrões de inteligência e a acordar talentos que muitas vezes não podem ser notados com uma mera análise curricular.
Os sonhos de recursos humanos viram realidade à medida que o talento não precisa mais ser desperdiçado por conta de falhas, que na verdade nada mais são do que competências e habilidades propensas a serem transformadas por uma ação mais humanizada, com foco na inteligência emocional e comportamental e na pessoa, não mais em suas credenciais apenas.
É difícil lidar com isso? Sim, porém é também desafiador. E por muito tempo o RH representou um braço burocrático dentro das empresas – a inteligência comportamental é a libertação do viés criativo de recursos humanos e seu portal para a criação de uma frente de atuação mais pró-ativa e estratégica.
Fonte: https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/inteligencia-comportamental-o-rh-dos-sonhos-virou-realidade/
Fonte da imagem de capa: https://br.freepik.com/fotos-gratis/desenho-do-quadro-de-uma-cabeca-e-projetos-de-conceito-de-ideia_5957159.htm#fromView=search&page=1&position=20&uuid=7dcc4698-21c7-4455-85fd-8a2f53368a43
Publicado por: Tiago Merlone